24 de jul. de 2010

Tenho Tanto Sentimento







Tenho tanto sentimento


Que é freqüente persuadir-me


De que sou sentimental,


Mas reconheço, ao medir-me,


Que tudo isso é pensamento,


Que não senti afinal.


Temos, todos que vivemos,


Uma vida que é vivida


E outra vida que é pensada,


E a única vida que temos


É essa que é dividida


Entre a verdadeira e a errada.


Qual porém é a verdadeira


E qual errada, ninguém


Nos saberá explicar;


E vivemos de maneira


Que a vida que a gente tem


É a que tem que pensar.


(Fernando Pessoa)

(Marcos Ernani)

"Deveríamos ser sensíveis como as crianças,
que sentem alegria nas pequenas coisas..."


Adeus,


que é tempo de marear!



Por que procuram pelos olhos meus

rastros de choro,

direções de olhar?



Quem fala em praias de cristal e de ouro,

abrindo estrelas nos aléns do mar?

Quem pensa num desembarcadouro?

- É hora, apenas, de marear.



Quem chama o sol? Mas quem procura o vento?

e âncora? e bússola? e rumo e lugar?

Quem levanta do esquecimento

esses fantasmas de perguntar?



Lenço de adeuses já perdi...Por onde?

- na terra, andando, e só de tanto andar...

Não faz mal. Que ninguém responde

a um lenço movido no ar...



Perdi meu lenço e meu passaporte

- senhas inúteis de ir e chegar.

Quem lembra a fala da ausência

num mundo sem correspondência?



Viajante da sorte na barca da sorte,

sem vida nem morte...



Adeus,

que é tempo de marear!



CECÍLIA MEIRELES