25 de jul. de 2010

Valsa

Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos



e nas tuas antigas palavras.


O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,


que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.






Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto


e modelou tua voz entre as algas.


Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege


e estudo apenas o ar e as águas.






Coitado de quem pôs sua esperança


nas praias fora do mundo...


- Os ares fogem, viram-se as águas,


mesmo as pedras, com o tempo, mudam.










Cecília Meireles

(Marcos Ernani)

"Deveríamos ser sensíveis como as crianças,
que sentem alegria nas pequenas coisas..."


Adeus,


que é tempo de marear!



Por que procuram pelos olhos meus

rastros de choro,

direções de olhar?



Quem fala em praias de cristal e de ouro,

abrindo estrelas nos aléns do mar?

Quem pensa num desembarcadouro?

- É hora, apenas, de marear.



Quem chama o sol? Mas quem procura o vento?

e âncora? e bússola? e rumo e lugar?

Quem levanta do esquecimento

esses fantasmas de perguntar?



Lenço de adeuses já perdi...Por onde?

- na terra, andando, e só de tanto andar...

Não faz mal. Que ninguém responde

a um lenço movido no ar...



Perdi meu lenço e meu passaporte

- senhas inúteis de ir e chegar.

Quem lembra a fala da ausência

num mundo sem correspondência?



Viajante da sorte na barca da sorte,

sem vida nem morte...



Adeus,

que é tempo de marear!



CECÍLIA MEIRELES