Conheço-te o rosto sulcado, sinuoso,
uma aguarela descorada,
símbolo explícito da desilusão.
Conheço-te o vestido,
de tule e margaridas,
relicário guardado em segredo,
e o formigueiro que te agita os ombros,
os seios,
te maneia as ancas,
preliminar dilúvio de um desejo.
Passarinho verde chegou, alvitram os curiosos,
mas é de fogo a cor do baton,
e o cabelo roça o chão,
e surges à janela sem pudor,
saúdas o dia,
completamente nua.
Estás diferente,
nota-se na pele.
(Helena Figueiredo)