14 de jul. de 2010

DA TUA PELE



Conheço-te o rosto sulcado, sinuoso,
uma aguarela descorada,
símbolo explícito da desilusão.
Conheço-te o vestido,
de tule e margaridas,
relicário guardado em segredo,
e o formigueiro que te agita os ombros,
os seios,
te maneia as ancas,
preliminar dilúvio de um desejo.
Passarinho verde chegou, alvitram os curiosos,
mas é de fogo a cor do baton,
e o cabelo roça o chão,
e surges à janela sem pudor,
saúdas o dia,
completamente nua.
Estás diferente,
nota-se na pele.

(Helena Figueiredo)

(Marcos Ernani)

"Deveríamos ser sensíveis como as crianças,
que sentem alegria nas pequenas coisas..."


Adeus,


que é tempo de marear!



Por que procuram pelos olhos meus

rastros de choro,

direções de olhar?



Quem fala em praias de cristal e de ouro,

abrindo estrelas nos aléns do mar?

Quem pensa num desembarcadouro?

- É hora, apenas, de marear.



Quem chama o sol? Mas quem procura o vento?

e âncora? e bússola? e rumo e lugar?

Quem levanta do esquecimento

esses fantasmas de perguntar?



Lenço de adeuses já perdi...Por onde?

- na terra, andando, e só de tanto andar...

Não faz mal. Que ninguém responde

a um lenço movido no ar...



Perdi meu lenço e meu passaporte

- senhas inúteis de ir e chegar.

Quem lembra a fala da ausência

num mundo sem correspondência?



Viajante da sorte na barca da sorte,

sem vida nem morte...



Adeus,

que é tempo de marear!



CECÍLIA MEIRELES