25 de jul. de 2010

Sonho. Não sei quem sou.


Sonho. Não sei quem sou neste momento.


Durmo sentindo-me. Na hora calma


Meu pensamento esquece o pensamento,


Minha alma não tem alma.






Se existo é um erro eu o saber. Se acordo


Parece que erro. Sinto que não sei.


Nada quero nem tenho nem recordo.


Não tenho ser nem lei.






Lapso da consciência entre ilusões,


Fantasmas me limitam e me contêm.


Dorme insciente de alheios corações,


Coração de ninguém.










(Fernando Pessoa/Cancioneiro)

(Marcos Ernani)

"Deveríamos ser sensíveis como as crianças,
que sentem alegria nas pequenas coisas..."


Adeus,


que é tempo de marear!



Por que procuram pelos olhos meus

rastros de choro,

direções de olhar?



Quem fala em praias de cristal e de ouro,

abrindo estrelas nos aléns do mar?

Quem pensa num desembarcadouro?

- É hora, apenas, de marear.



Quem chama o sol? Mas quem procura o vento?

e âncora? e bússola? e rumo e lugar?

Quem levanta do esquecimento

esses fantasmas de perguntar?



Lenço de adeuses já perdi...Por onde?

- na terra, andando, e só de tanto andar...

Não faz mal. Que ninguém responde

a um lenço movido no ar...



Perdi meu lenço e meu passaporte

- senhas inúteis de ir e chegar.

Quem lembra a fala da ausência

num mundo sem correspondência?



Viajante da sorte na barca da sorte,

sem vida nem morte...



Adeus,

que é tempo de marear!



CECÍLIA MEIRELES